Dentro do ônibus Urbano I [Portal VozdoCLIENTE]
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Nenhum ônibus urbano deve circular



Lulu entra no ônibus, que cumpre seu trajeto cotidiano por uma grande avenida da cidade (se é urbano, só poderia ser da cidade). Por sorte ela encontra um lugar vazio - algo muito raro, considerando a quantidade de ônibus que a empresa coloca em circulação.

 Uns 5 minutos depois entra a Cacilda, que fica meio sem graça ao ver a Lulu, mas fazer o quê, não é?

-Oi, Cacilda, tudo bem?

-Oooi, Lulu, bom te ver. Menina, você conseguiu aquele curso para sua filha?

-Não.

-Pois é, eu consegui e estou fazendo. Inclusive eu preciso descer a uns 3 pontos para uma aula. Estou voltando do trabalho. Você nem imagina como estou cansada. Auxiliar de enfermagem, você sabe como é que é,né?

-Pois é, não é vida fácil.

-Aqui, eu posso te passar o endereço pra sua menina ir. Tem caneta aí?

-Não. Tenho celular.

-Boa, me passa o número e eu te ligo. Acho que ela vai gostar.

-Pode ser uma boa, mesmo.

-Então, tá chegando meu ponto. Vou descer, viu? A gente se fala depois.

-Tá bom, Cacilda.

 Nisso o ônibus começa a lotar. Um homem de uns 30 anos, bom porte físico usando boné e carregando uma sacola vermelha entra no ônibus e  fica na parte da frente, próximo ao motorista.

 Rapidamente, Lulu saca o celular e faz uma ligação.

- Oi, Regininha? Menina, você não vai acreditar...Sabe aquela pir...pessoa que você adora? Pois é, entrou nesse ônibus e já desceu. Disse que estava trabalhando. Você crê? Gente, ela disse que estava indo pro curso de Informática. E o seu marido, o Dudu, entrou nesse ônibus uns três pontos depois e ficou lá na frente. Ele está até com uma sacola de loja. Parece que fez compras.

 Nisso, o Mauro, que já estava dentro do ônibus, se aproxima de Lulu, a reconhece e a cumprimenta.

-Espera um pouquinho que eu volto a te ligar, Cacilda - diz Lulu e fecha o aparelho telefônico. - Oi, Mauro! Há quanto tempo! Você continua com a banda?

-Sim. A gente até gravou um CD e vamos fazer um show em breve.Vou até te convidar.

-Nossa! Que tuuudo! Vocês vão bombar!! Me chama, mesmo.

-Aqui, eu vou descer. Te ligo para o show. Muito bom te ver.

-Tá certo. Me ligue. Sucesso pra vocês!

Lulu abre o celular e liga novamente para a Regininha. 

-Então, Regininha, você tem certeza? Eu não posso acreditar. Os dois? Aaah, é muita cara de pau, geeente! Como é que pode, um trem desses? Mas, aqui, eles não estavam juntos. Ela entrou e desceu antes. Ele entrou depois. Daqui eu estou vendo ele. Está usando uma camisa verde.

-Mimimimimimimimimi...

-Você acha que é tudo teatro? Eles estão se encontrando todos os dias? Misericórdia. Haja dinheiro pro motel. Desculpa, amiga. Aqui, eu preciso passar aí depois pra gente tomar um café juntas.Amiga, não tem cabimento um trem desses. O Dudu, aquele cara tímido do bairro... pegando a Cacilda com o sol quente...quem te viu, quem te vê... nossa... e você... deve estar arrasada...Regininha... ainda bem que ele não me viu sentada aqui. O pior é que a cara não queima de jeito nenhum. Aqui, eu vou desligar. Você sabe, não é? Esses ônibus costumam ter ouvidos. A gente se encontra depois para eu te contar tudo em detalhes, viu? Amiga, tudo de bom. Mas é ordinário, hein...sangue de Jesus...

Lecy Pereira Sousa


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